Esse texto foi escrito há quase oito anos e, para minha tristeza, ainda é muito atual.
Fico pensando na quantidade de notícias que escuto
sobre maltrato que os homens, seres racionais, praticam contra os animais,
sejam domésticos ou não – os chamados irracionais.
Mas até que ponto nós podemos ser chamados de seres racionais? Será que estamos usando o nosso bom senso e a nossa racionalidade quando maltratamos nossos companheiros diários e os nossos meios de subsistência? Vejo e ouço muitos casos de maltrato e até de crueldade com esses animais, que muitas vezes nem sabem o que está acontecendo, e consequentemente o porquê de estarem sendo agredidos.
Um dos casos mais fáceis de ser percebidos é o do carroceiro que não consegue ou não quer perceber que o cavalo, jumento ou o jegue não tem condições de puxar uma carroça com uma carga altíssima, e mesmo assim ele chicoteia sem pena ou espanca o pobre animal. Muitas vezes sem nem se dar conta de que aquele animal também precisa de um pouco de respeito, pois também é um ser vivo e por isso tem seus limites físicos.
Outro caso é o de donos de cães e gatos que todos adoram quando são filhotes, pois são muito lindos e fofinhos, mas conforme vão crescendo e envelhecendo são largados como se fossem meros objetos de decoração das nossas casas. Certa vez estava passando de carro pela Linha Vermelha, uma via de alta velocidade aqui do Rio de Janeiro, por um trecho onde não havia residências num raio bastante respeitável de quilômetros quando vi um cão andando pelo acostamento. Por não ter nenhuma residência perto da região onde estava e o animal aparentar já estar na fase adulta só poderia supor que ele fora abandonado. Agora que tipo de ser humano(?) abandona um animal numa via onde a velocidade média é de 100 km/h?
Também existem casos de animais que são abandonados quando estão velhos ou doentes. Lembro agora que alguns animais, principalmente os cães, apegam-se às pessoas e quando chegam à velhice querem ficar perto de quem eles sempre consideraram como seus companheiros e quando se veem longe de seus donos sentem-se abandonados. Lembro agora de um cão que tivemos que, quando já estava bem velhinho, aonde nos íamos ele sempre estava perto da gente, com o seu andar já bem vagaroso.
Não podemos nos esquecer dos casos de maldade gratuita, como o caso que aconteceu numa cidade gaúcha, onde três jovens por não ter o que fazer e para vencer o tédio decidiram amarrar uma cadela ao seu automóvel e andar pela cidade por vários quilômetros. Nem preciso relatar o final da estória para termos uma noção do tamanho da crueldade. Houve também um caso mais recente, na cidade de São Paulo, de um homem que deixou seu cachorro sem alimento por quase três meses e ainda queria enterrá-lo vivo.
Relatos de maus tratos contra os animais temos diversos, infelizmente. Mas quando vamos ter consciência de que qualquer forma de vida, seja animal, vegetal ou humana deve ser respeitada? Infelizmente a mídia não dá muito destaque aos crimes cometidos contra os animais chamados domésticos, sejam de carga ou de companhia. Dá-se importância à vida dos animais silvestres sem perceber que bem embaixo dos seus narizes, muitas vezes nas portas das suas redações, acontecem crimes contra os animais urbanos.
Nossa intenção não é que papariquemos ou cometamos exageros ao tratar dos nossos animais e dos que vivem pelas ruas, mas que tenhamos pelo menos o mínimo de respeito por todos os animais sejam silvestres, urbanos, de carga ou domésticos. Que possamos enxergar nesses seres companheiros de habitat e quando testemunharmos algum tipo de agressão que façamos uma denúncia e, dessa forma, provemos que somos capazes de exibir o título de animais racionais, porque o mau trato aos animais também é crime.
Tonni Nascimento
Publicado originalmente em Pontos de vista em 9/06/2007.
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