domingo, 24 de maio de 2020

Era 22 de abril, mas bem que podia ser 1º


Há algum tempo que não escrevo sobre nenhum assunto nem prosa e muito menos poesia, nada mesmo. Mas acompanhando o noticiário atual, vendo tantos absurdos algo começou a corroer-me então eis-me aqui tentando transcrever alguns pensamentos.

Não vou escrever sobre a pandemia do novo Coronavírus e muito menos sobre a crise pela qual a saúde do Brasil está passando agora. Contudo é inevitável não comentar sobre o vídeo da fatídica reunião do gabinete ministerial do governo federal do dia 22 de abril. E, consequentemente, da infeliz confirmação de que nosso governo não existe.

Nem vale a pena perder muito tempo comentar sobre os palavrões proferidos pelas autoridades presentes. Não que todos deveriam ser exemplos de vocabulários respeitosos, mas o mínimo que se espera de uma autoridade em uma reunião oficial é um decoro. Mas não vamos ser puritanos nesse momento, deixemos isso para um outro momento.

Alguns pontos me chamaram a atenção. Um deles é que não houve a apresentação de uma prova irrefutável da suposta interferência, ou tentativa, do Presidente da República na Polícia Federal. Entretanto seria querer muito que surgisse dali alguma prova concreta, já que o ex Ministro, em outros casos como juiz, baseava-se em provas circunstanciais.

Um outro ponto foi a fala de que esse governo estava ocupado em defender a liberdade de expressão e a democracia. Oi?! Como assim?! Como um governo pode querer defender a democracia ou a liberdade de expressão se o seu chefe não quer que seus ministros falem com a imprensa? Como defender a democracia se o governo não respeita governadores e prefeitos, cidadãos que ocupam cargos para os quais foram eleitos democraticamente? E ainda com ameaças de pedidos de prisão?

O Ministro do Meio ambiente propõe que o governo aproveite que o foco da imprensa está voltado para a crise do Coronavírus para passar sua pauta nociva ao meio ambiente. O Ministro da educação que além de não trazer nada sobre a sua pasta ainda consegue ofender uma cidade inteira e os outros Poderes da República. Sem falar na recusa de reconhecer a diversidade cultural do país. Mas educação que era do que deveria falar... nada.

E para acabar com o circo de horrores, nessa data o país já estava convivendo com a ameaça real da Covid-19 e nada de produtivo foi falado na reunião sobre o assunto.  Tivemos também a defesa patética, ou seria melhor dizer insana, de que a população deveria armar-se, pois um povo armado não se deixa escravizar. Onde já se viu armar a população? Imaginemos na atual circunstância, onde andamos tão intransigentes com opiniões divergentes das nossas, cidadãos armados comecem a discutir acaloradamente sobre pontos de vista antagônicos, o que poderá acontecer?

Como escrevi em um post numa rede social: essa reunião em nada pode ser chamada de reunião de gabinete, de governo ou ministerial. Ela mais pareceu com uma reunião de condomínio, daqueles onde o nível é o mais baixo, onde faltou de tudo. Desde educação, postura, inteligência e acima de tudo respeito ao Brasil e ao povo brasileiro. Esse povo formado por 210 milhões de pessoas e não apenas pelos pouco mais de 57 milhões que votaram no atual presidente e na sua ausência de plano de governo.

Tonni Nascimento

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