Há algum tempo que não escrevo sobre nenhum
assunto nem prosa e muito menos poesia, nada mesmo. Mas acompanhando o
noticiário atual, vendo tantos absurdos algo começou a corroer-me então eis-me
aqui tentando transcrever alguns pensamentos.
Não vou escrever sobre a pandemia do novo
Coronavírus e muito menos sobre a crise pela qual a saúde do Brasil está
passando agora. Contudo é inevitável não comentar sobre o vídeo da fatídica
reunião do gabinete ministerial do governo federal do dia 22 de abril. E,
consequentemente, da infeliz confirmação de que nosso governo não existe.
Nem vale a pena perder muito tempo comentar
sobre os palavrões proferidos pelas autoridades presentes. Não que todos
deveriam ser exemplos de vocabulários respeitosos, mas o mínimo que se espera
de uma autoridade em uma reunião oficial é um decoro. Mas não vamos ser
puritanos nesse momento, deixemos isso para um outro momento.
Alguns pontos me chamaram a atenção. Um
deles é que não houve a apresentação de uma prova irrefutável da suposta
interferência, ou tentativa, do Presidente da República na Polícia Federal. Entretanto
seria querer muito que surgisse dali alguma prova concreta, já que o ex
Ministro, em outros casos como juiz, baseava-se em provas circunstanciais.
Um outro ponto foi a fala de que esse
governo estava ocupado em defender a liberdade de expressão e a democracia.
Oi?! Como assim?! Como um governo pode querer defender a democracia ou a liberdade
de expressão se o seu chefe não quer que seus ministros falem com a imprensa?
Como defender a democracia se o governo não respeita governadores e prefeitos, cidadãos
que ocupam cargos para os quais foram eleitos democraticamente? E ainda com
ameaças de pedidos de prisão?
O Ministro do Meio ambiente propõe que o governo
aproveite que o foco da imprensa está voltado para a crise do Coronavírus para
passar sua pauta nociva ao meio ambiente. O Ministro da educação que além de
não trazer nada sobre a sua pasta ainda consegue ofender uma cidade inteira e
os outros Poderes da República. Sem falar na recusa de reconhecer a diversidade
cultural do país. Mas educação que era do que deveria falar... nada.
E para acabar com o circo de horrores,
nessa data o país já estava convivendo com a ameaça real da Covid-19 e nada de
produtivo foi falado na reunião sobre o assunto. Tivemos também a defesa patética, ou seria
melhor dizer insana, de que a população deveria armar-se, pois um povo armado
não se deixa escravizar. Onde já se viu armar a população? Imaginemos na atual circunstância,
onde andamos tão intransigentes com opiniões divergentes das nossas, cidadãos armados
comecem a discutir acaloradamente sobre pontos de vista antagônicos, o que poderá
acontecer?
Como escrevi em um post numa rede social:
essa reunião em nada pode ser chamada de reunião de gabinete, de governo ou
ministerial. Ela mais pareceu com uma reunião de condomínio, daqueles onde o nível
é o mais baixo, onde faltou de tudo. Desde educação, postura, inteligência e
acima de tudo respeito ao Brasil e ao povo brasileiro. Esse povo formado por 210
milhões de pessoas e não apenas pelos pouco mais de 57 milhões que votaram no atual
presidente e na sua ausência de plano de governo.
Tonni Nascimento