Não quero acreditar, mas as
vezes tenho a séria impressão de que a nossa sociedade está doente,
egoisticamente doente. Pois se não for isso uma outra explicação seria
acreditar que uma boa parcela da população brasileira é criminosa, ao não se
importar com o bem estar do outro, trabalhando, em alguns casos, para piorar o
quadro geral. Juro que não gostaria de estar escrevendo sobre os maus hábitos
dos políticos brasileiros, dos cidadãos ou sobre a COVID-19, gostaria de estar
escrevendo sobre outras coisas, mas eles não deixam devido aos absurdos - para
não dizer atitudes criminosas - que nos surgem as vistas no passar dos dias.
Um dos fatos mais absurdos e que
vale a pena discutir são os ligados a atitude do prefeito da cidade do Rio de Janeiro.
Ele até que vinha fazendo um serviço, no que diz respeito à pandemia, razoável,
promovendo e estimulando a quarentena. Contudo as coisas começaram a mudar com
ele começando a falar em flexibilização que, segundo especialistas, seria
inadequado. O primeiro sinal de mudança foi tirar do painel oficial da cidade
os dados dos óbitos por conta da pandemia, alegando que mudariam a
contabilidade dos dados. Fato que logo após denúncias voltou atrás e passou a
divulgar como anteriormente. Depois o prefeito foi visitar o presidente da
república, seu aliado político e do dono - seu tio - da igreja onde ele é bispo
licenciado e na volta trouxe ideias de flexibilizar a quarentena na cidade. Primeiramente
com um plano até interessante, dividido em fases, mas que começaram a ser atropeladas
sendo adiantadas sem nenhuma explicação cientifica. Antecipou a abertura dos
shoppings centers e há poucos dias antecipou as aberturas das lojas de ruas e
bares e academias. Hoje quase tudo está permitido desde que os estabelecimentos
e pessoas sigam as regras de ouro para a prevenção do COVID-19.
Sobre essa abertura de bares
e academias temos um dos quadros mais grotescos já pintados na atual época. Abertura
não né, oficialização do funcionamento desses estabelecimentos, pois boa parte
deles nunca estiveram realmente fechados. A diferença é que antes não havia
permissão para tal. E parece, pelo que vimos no Leblon na noite da quinta-feira
(02/07), que junto com a autorização de abertura veio a cura e/ou vacina para
essa pandemia. Pois as pessoas que lá estavam não se preocupavam com nada, nem
com a sua saúde e muito menos com a dos outros. Aglomeravam-se sem proteção
individual e muito menos respeitando o distanciamento social indicado pelas
autoridades médicas, parecia que seria a última noite de vida humana na Terra. Afinal
de contas, não existe outra explicação para essa correria desenfreada para os bares.
Embora isso não tenha acontecido apenas no Leblon, apenas só surgiram imagens de
lá. Todos estamos cansados de ficarmos em casa? Sim, mas sabemos que isso é temporário
e enquanto mais colaborarmos, ficando em casa, mais rápido isso passará.
Agora chegou a hora de falar sobre
aquele que já esgotou por várias encarnações, para aqueles que acreditam, a sua
cota de absurdos no que diz respeito a pandemia do Coronavírus; o excelentíssimo
senhor presidente da república. Após voltar de uma viagem oficial aos EUA, onde
mais da metade da sua comitiva contraiu o Coronavírus; comparecer em diversos atos
políticos, antidemocráticos, promovendo aglomerações de pessoas; não usar máscaras
ao sair em público; desrespeitar as vítimas, e seus parentes, da pandemia
fazendo pouco caso sobre; chamar essa doença de “gripezinha” sem importância; classificar
salões de barbeiro e academias como serviços essenciais ele chega ao ponto que
muitos achavam impossível: colocar a cereja no bolo ao vetar a obrigatoriedade
do uso de máscaras em templos religiosos e ambientes comerciais numa lei
aprovada pelo Congresso que regulamenta o uso de máscaras em ambientes públicos
e privados. Pelo amor de Deus! Locais onde há aglomeração de pessoas, onde
pessoas dividirão o mesmo espaço, respirarão no mesmo espaço, fazendo com que o
risco de contaminação aumente drasticamente. Veto esse que foi duramente
criticado por especialistas e espero que o Congresso derrube.
Quando será que iremos
despertar dessa sonolência absurda onde vemos esses absurdos e não fazemos ou
falamos nada? Os casos oficiais de covid-19 no Brasil já passam de 1 milhão e
meio com mais de 60 mil mortos. Não quero acreditar que somos tão indiferentes
assim. Ou será que estamos apoiando e aprovando tais quadros? Será que pensamos
como o prefeito de Itabuna, cidade baiana, onde o prefeito diz que vai abrir o
comércio da cidade e “morra quem tiver que morrer”, pois a vida é uma só e é
para ser vivida? Não quero acreditar que, como sociedade, pensamos assim. Prefiro
crer que estamos vendo tudo isso incrédulos e com receio de levantar nossa voz,
mas basta! Chegou a hora de deixarmos o medo e a timidez de lado, chegou a hora
de fazermos valer a nossa condição de cidadãos corretos, do bem e lutar pelo bem
estar social de todos. E nesse caso refere-se aos cuidados para que essa doença
comece a ser controlada no nosso território e voltarmos a viver nossas vidas,
mais conscientes, mais generosos, enfim melhores do que éramos antes dessa
doença nos atingir.
Tonni Nascimento