sábado, 4 de julho de 2020

Absurdos brasileiros na pandemia do Coronavírus


Covid-19: Brasil pode atingir 2 milhões de casos até 15 de julhoNão quero acreditar, mas as vezes tenho a séria impressão de que a nossa sociedade está doente, egoisticamente doente. Pois se não for isso uma outra explicação seria acreditar que uma boa parcela da população brasileira é criminosa, ao não se importar com o bem estar do outro, trabalhando, em alguns casos, para piorar o quadro geral. Juro que não gostaria de estar escrevendo sobre os maus hábitos dos políticos brasileiros, dos cidadãos ou sobre a COVID-19, gostaria de estar escrevendo sobre outras coisas, mas eles não deixam devido aos absurdos - para não dizer atitudes criminosas - que nos surgem as vistas no passar dos dias.

Um dos fatos mais absurdos e que vale a pena discutir são os ligados a atitude do prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Ele até que vinha fazendo um serviço, no que diz respeito à pandemia, razoável, promovendo e estimulando a quarentena. Contudo as coisas começaram a mudar com ele começando a falar em flexibilização que, segundo especialistas, seria inadequado. O primeiro sinal de mudança foi tirar do painel oficial da cidade os dados dos óbitos por conta da pandemia, alegando que mudariam a contabilidade dos dados. Fato que logo após denúncias voltou atrás e passou a divulgar como anteriormente. Depois o prefeito foi visitar o presidente da república, seu aliado político e do dono - seu tio - da igreja onde ele é bispo licenciado e na volta trouxe ideias de flexibilizar a quarentena na cidade. Primeiramente com um plano até interessante, dividido em fases, mas que começaram a ser atropeladas sendo adiantadas sem nenhuma explicação cientifica. Antecipou a abertura dos shoppings centers e há poucos dias antecipou as aberturas das lojas de ruas e bares e academias. Hoje quase tudo está permitido desde que os estabelecimentos e pessoas sigam as regras de ouro para a prevenção do COVID-19.

Sobre essa abertura de bares e academias temos um dos quadros mais grotescos já pintados na atual época. Abertura não né, oficialização do funcionamento desses estabelecimentos, pois boa parte deles nunca estiveram realmente fechados. A diferença é que antes não havia permissão para tal. E parece, pelo que vimos no Leblon na noite da quinta-feira (02/07), que junto com a autorização de abertura veio a cura e/ou vacina para essa pandemia. Pois as pessoas que lá estavam não se preocupavam com nada, nem com a sua saúde e muito menos com a dos outros. Aglomeravam-se sem proteção individual e muito menos respeitando o distanciamento social indicado pelas autoridades médicas, parecia que seria a última noite de vida humana na Terra. Afinal de contas, não existe outra explicação para essa correria desenfreada para os bares. Embora isso não tenha acontecido apenas no Leblon, apenas só surgiram imagens de lá. Todos estamos cansados de ficarmos em casa? Sim, mas sabemos que isso é temporário e enquanto mais colaborarmos, ficando em casa, mais rápido isso passará.

Agora chegou a hora de falar sobre aquele que já esgotou por várias encarnações, para aqueles que acreditam, a sua cota de absurdos no que diz respeito a pandemia do Coronavírus; o excelentíssimo senhor presidente da república. Após voltar de uma viagem oficial aos EUA, onde mais da metade da sua comitiva contraiu o Coronavírus; comparecer em diversos atos políticos, antidemocráticos, promovendo aglomerações de pessoas; não usar máscaras ao sair em público; desrespeitar as vítimas, e seus parentes, da pandemia fazendo pouco caso sobre; chamar essa doença de “gripezinha” sem importância; classificar salões de barbeiro e academias como serviços essenciais ele chega ao ponto que muitos achavam impossível: colocar a cereja no bolo ao vetar a obrigatoriedade do uso de máscaras em templos religiosos e ambientes comerciais numa lei aprovada pelo Congresso que regulamenta o uso de máscaras em ambientes públicos e privados. Pelo amor de Deus! Locais onde há aglomeração de pessoas, onde pessoas dividirão o mesmo espaço, respirarão no mesmo espaço, fazendo com que o risco de contaminação aumente drasticamente. Veto esse que foi duramente criticado por especialistas e espero que o Congresso derrube.

Quando será que iremos despertar dessa sonolência absurda onde vemos esses absurdos e não fazemos ou falamos nada? Os casos oficiais de covid-19 no Brasil já passam de 1 milhão e meio com mais de 60 mil mortos. Não quero acreditar que somos tão indiferentes assim. Ou será que estamos apoiando e aprovando tais quadros? Será que pensamos como o prefeito de Itabuna, cidade baiana, onde o prefeito diz que vai abrir o comércio da cidade e “morra quem tiver que morrer”, pois a vida é uma só e é para ser vivida? Não quero acreditar que, como sociedade, pensamos assim. Prefiro crer que estamos vendo tudo isso incrédulos e com receio de levantar nossa voz, mas basta! Chegou a hora de deixarmos o medo e a timidez de lado, chegou a hora de fazermos valer a nossa condição de cidadãos corretos, do bem e lutar pelo bem estar social de todos. E nesse caso refere-se aos cuidados para que essa doença comece a ser controlada no nosso território e voltarmos a viver nossas vidas, mais conscientes, mais generosos, enfim melhores do que éramos antes dessa doença nos atingir. 

Tonni Nascimento
 

domingo, 24 de maio de 2020

Era 22 de abril, mas bem que podia ser 1º


Há algum tempo que não escrevo sobre nenhum assunto nem prosa e muito menos poesia, nada mesmo. Mas acompanhando o noticiário atual, vendo tantos absurdos algo começou a corroer-me então eis-me aqui tentando transcrever alguns pensamentos.

Não vou escrever sobre a pandemia do novo Coronavírus e muito menos sobre a crise pela qual a saúde do Brasil está passando agora. Contudo é inevitável não comentar sobre o vídeo da fatídica reunião do gabinete ministerial do governo federal do dia 22 de abril. E, consequentemente, da infeliz confirmação de que nosso governo não existe.

Nem vale a pena perder muito tempo comentar sobre os palavrões proferidos pelas autoridades presentes. Não que todos deveriam ser exemplos de vocabulários respeitosos, mas o mínimo que se espera de uma autoridade em uma reunião oficial é um decoro. Mas não vamos ser puritanos nesse momento, deixemos isso para um outro momento.

Alguns pontos me chamaram a atenção. Um deles é que não houve a apresentação de uma prova irrefutável da suposta interferência, ou tentativa, do Presidente da República na Polícia Federal. Entretanto seria querer muito que surgisse dali alguma prova concreta, já que o ex Ministro, em outros casos como juiz, baseava-se em provas circunstanciais.

Um outro ponto foi a fala de que esse governo estava ocupado em defender a liberdade de expressão e a democracia. Oi?! Como assim?! Como um governo pode querer defender a democracia ou a liberdade de expressão se o seu chefe não quer que seus ministros falem com a imprensa? Como defender a democracia se o governo não respeita governadores e prefeitos, cidadãos que ocupam cargos para os quais foram eleitos democraticamente? E ainda com ameaças de pedidos de prisão?

O Ministro do Meio ambiente propõe que o governo aproveite que o foco da imprensa está voltado para a crise do Coronavírus para passar sua pauta nociva ao meio ambiente. O Ministro da educação que além de não trazer nada sobre a sua pasta ainda consegue ofender uma cidade inteira e os outros Poderes da República. Sem falar na recusa de reconhecer a diversidade cultural do país. Mas educação que era do que deveria falar... nada.

E para acabar com o circo de horrores, nessa data o país já estava convivendo com a ameaça real da Covid-19 e nada de produtivo foi falado na reunião sobre o assunto.  Tivemos também a defesa patética, ou seria melhor dizer insana, de que a população deveria armar-se, pois um povo armado não se deixa escravizar. Onde já se viu armar a população? Imaginemos na atual circunstância, onde andamos tão intransigentes com opiniões divergentes das nossas, cidadãos armados comecem a discutir acaloradamente sobre pontos de vista antagônicos, o que poderá acontecer?

Como escrevi em um post numa rede social: essa reunião em nada pode ser chamada de reunião de gabinete, de governo ou ministerial. Ela mais pareceu com uma reunião de condomínio, daqueles onde o nível é o mais baixo, onde faltou de tudo. Desde educação, postura, inteligência e acima de tudo respeito ao Brasil e ao povo brasileiro. Esse povo formado por 210 milhões de pessoas e não apenas pelos pouco mais de 57 milhões que votaram no atual presidente e na sua ausência de plano de governo.

Tonni Nascimento

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Meu povo, meu poema



Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro

Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta

Ferreira Gullar
 

sexta-feira, 18 de março de 2016

Que país é esse?



 
“Nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação”. São com esses versos escritos por Renato Russo e que ficaram conhecidos na canção “Que país e esse?” que começo mais um texto. Hoje todos aceitam o fato, inegável, de que o nosso país está passando por um processo muito complicado tanto economicamente quanto politicamente. E é com base nesse sentimento/entendimento que vou propor aqui uma reflexão sobre o atual momento pelo qual estamos passando.

O que nos espera se deixarmos de lado o nosso raciocínio, a nossa capacidade de dialogar racionalmente com pessoas que divergem de nossos pensamentos e nos cercamos apenas daqueles que nos são simpáticos nas ideias e ideais? O que será do nosso País se esquecermos da nossa História e simplesmente deixarmos de lado tudo o que já passamos em décadas e séculos passados? Será que teremos algum ganho real como sociedade, será que como uma nação seremos vitoriosos? O que esse momento reserva para o futuro da nação?

Esquerda contra a Direita, MDB contra a Arena, Capitalismo contra o Socialismo, Guerra Fria, “mal” contra o ”bem”. Será que não aprendemos nada com a História? Até quando iremos alimentar esse clima de estupidez e guerra ideológica que a cada dia ganha mais força? Até quando permitiremos que grupos organizados nos digam como agir e pensar? Até quando iremos permitir que os interesses particulares e escusos, de grupos seletos, ocultos ou não, nos influenciem e ditem como devemos entender a situação atual? É preciso questionar, é preciso refletir sobre isso.

Não nego para nenhum dos meus amigos e conhecidos que tenho uma orientação política de centro-esquerda, mas nem por isso deixo minha identidade ideológica e política eclipsar minha visão ou meu raciocínio. Essa reflexão que proponho não tem o objetivo explicito ou implícito de doutrinar, converter ou angariar pessoas para que pensem ou ajam do mesmo modo como eu. Não é por conta da minha identificação política que vou evitar ouvir, debater e conversar racionalmente com aqueles que tem uma visão política inversa à minha. Contudo sinto-me na obrigação moral de tentar trazer um pouco de luz e racionalidade para essa discussão. Pois somente com esse dialogo, com essa conversa inteligente e sem apegos ou barreias passionais é que iremos esclarecer e ser esclarecidos sobre os fatos que ocorrem a nossa volta e qual a melhor solução para essa situação. Isso pode parecer para alguns utópico, mas se olharmos para o passado da sociedade boa parte das maiores ideias e melhores soluções surgiram e foram desenvolvidas a partir de ideias utópicas.

Devemos lutar sim como sociedade organizada e de forma organizada, mas não contra o cidadão A, B ou C, muito menos contra as Instituições que democraticamente e a muito custo conseguimos erguer. Temos o dever e a obrigação de lutar racionalmente contra essa forma viciada que adotamos de fazer política para que a Constituição e suas instituições sejam respeitadas e sobrevivam a esse momento de turbulência pelo qual passamos. Temos que lutar, mesmo em posições ideológicas divergentes, para que o melhor para o Brasil aconteça, respeitando os direitos que tantos lutaram para que hoje usufruíssemos. Temos que lutar não por pessoas e ideias particulares, mas pela nossa Pátria amada e tão maltratada pelo seu povo para que quando surgir a pergunta que intitula esse texto possamos responder: Esse é o pais que eu amo e sinto orgulho de fazer parte!

Tonni Nascimento
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